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terça-feira, 26 de maio de 2009•

Ciclo [Part I]

Pra dizer a verdade, eu não pensava muito em minha avó parterna. Pra ser mais franca ainda, lembrava dela em raras circunstancias.
Ainda é assim.

Pode parecer... Aliás, pode parecer o caralho!, to nem aí.
Quando criança, eu fazia parte de uma família Normal e Feliz, meus pais se amavam e minha então única irmã - um estorvo, na época - era gordinha e chorava pra nao ter de ir à escola. Eu adoooorava escola, até uma professora confundir um cisco qualquer em meu cabelo com um piolho.

Eu não tinha piolho!!!
Quisera eu ter piolho pra passar as tardes deitada no colo de minha avó (materna) enquanto ela me livrava da praga e eu babava de prazer!! Quisera!!!

Eeeenfim! Minha família era normal e feliz, com meu pai viajando a trabalho de vez em quando, mas me iniciando no computador quando estava em casa e minha mãe dando aulas.
Não lhe parece bastante normal???
Mamãe professora e papai que viaja a trabalho? Han???

Era!
...até o dia que, numa dessas viagens a trabalho, meu pai se apaixonou por outra pessoa. Se apaixonou, ou foi enfeitiçado, conforme as crenças nas quais falarei no decorrer dessa série de post´s. Uma mulher que, pra resumir, nunca foi nem nunca será metade de minha mãe.
Mas homem só enxerga sexo, não é mesmo? Sexo e facilidades... Xiii, alguém vai me matar!
Essa dona-moça que papai arranjou, bebia com ele e caiam na rua. Me lembro de pessoas contando as ocorrencias à minha mãe chorosa...
Eu?

Na época, meu mundo acabou.
Eu amava papai com todas as forças do meu coração e alma. E não entendia porque as pessoas (geralmente primas de mamãe) vinham dizer essas coisas horriveis pra ela, e a faziam chorar só pq Papai nao tinha vindo aquele final de semana!
Ele nao veio esse fim de semana, mas vem no outro! Ele me disse que o trabalho aumentou!, eu pensava.

Eu não sabia direito como funcionava o fuxico, mas imaginava que aquilo não era certo. Sentia isso. Então, planejei matar todas as pessoas "amigas" que irrompessem nossa porta. Dentro da minha casa já estava dificil demais sem elas e suas preocupações com minha mãe!
Mas, tudo que eu podia fazer quando elas chegavam era correr pro meu esconderijo secreto (subia na caixa-d´água e ficava em cima da casa) e imaginar as cenas de filme de terror que eu via com papai acontecendo com essas "pessoas-amigas". Por "via com papai", entenda-se, "via escondido de papai".

Aí Meu tio Marcus Vinícius se matou.
Um tiro nos miolos em plena avenida mais movimentada de Itabuna.
Isso aí tb eu não entendia direito... O que eu tava fazendo em Itabuna se nem eram férias? Nas minhas memórias, não tem minha avó ou avô. É tudo muito confuso... Só me lembro de Tia Rita cantando no altar! Ou é apenas a música que ela cantava que eu me lembro??
"Eu navegarei, no oceano do espírito..."
Sim, eu me lembro dela... ela não conseguiu concluir a música.

Umas duas semanas depois que voltamos, mamãe descobriu a gravidez. Papai, em um momento Casa dos Espiritos, abraçou a barriga dela e disse: Vai ser menino e vai se chamar Marcus Vinícius.
Beleza.
Eu adorava o fato de todo mundo achar a escrita do nome dele diferente, e, bem... nao ia queimar meus cabelos dessa vez, ja que não deu muito certo quando Paulinha nasceu.

Papai voltou ao "normal" no periodo da gravidez... Voltava pra casa todo fim de semana e minha vida nao tinha mais problemas!
...exceto que eu gostava cada vez menos de ir à escola por causa daquela Maldita professora que confundiu um cisco com um piolho em minha cabeça!

Marquinhus nasceu, foi crescendo, ficando gordinho e lindo. Mesmo todo melecado de cocô, era lindo!
Mas antes de ele completar 6 meses, novamente, meu pai foi se esvaindo de casa. Primeiro, 15 dias sem vir, depois um mês...

...até que um dia ele sumiu.

Ele tava na cidade ao lado, há apenas 80 km de distancia de nós, mas sumiu.
Sumiu lá de casa sem nunca ter brigado com Mamãe...Se ele nunca tinha brigado com mamãe, ... eu era o problema! Era o piolho!!! Eu tinha mesmo piolho, mas minha arrogancia nao me deixou acreditar! Psiu!, eu nao sabia o significado da Palavra arrogancia!!!
Chamei Mamãe na cozinha quase um ano depois de minha professora ter supostamente visto um piolho em minha cabeça e contei. Ela, é claro, pediu Nina pra examinar minha cabeça, e, com o veredito de "ta limpinha, Gilmara", ela foi na escola reclamar com a professora.

...que nem se lembrava mais do ocorrido.

Bem, culpa do piolho não era!
Então devia ser por causa daquele dia que furei a bola de Paulinha... Mas papai nao teria como saber, eu fiz parecer um acidente!
Se não era isso, minha maldade, o que era? Eu era uma excelente aluna e nunca olhava escondido quando ele pedia pra virar o rosto nas cenas feias dos filmes de terror.
Então, a culpa só podia ser de Paulinha pq ela chorava pra ir pra escola... Mas... mas desde que passou a segunda semana de aula, ela nao chorava mais.
Ja sei!!! Eu era feia e magrela!!! Mas isso ia mudar, eu tava tomando periatim e logo ia engordar, consequentemente ficando ... melhorzinha!

Mas mesmo a perspectiva de melhora em minha aparencia não fez com que ele ficasse...

...e não tive notícias de papai por dois anos concecutivos.
E não foi por nossa escolha, então, como poderia ser nossa culpa?

Bem, noticias eu tinha, pq às vezes as noticias que as "amigas" de mamãe traziam eram tão... era crueis com minha mãe e ela passava dias chorando. Não dava pra ignorar o efeito de certas visitas à minha mãe, mas eu não podia ficar dias em cima da casa, então, descia à noitinha e procurava alguma maldade pra fazer.

Eu estava começando a mudar!
Estava ficando mais inteligente, batia em minha irmã, coleguinhas de rua, e nao era punida por isso!!!

Nessa época, minha mãe sempre ligava pra mãe de Papai. Procurando socorro, acho. Ou um conforto que nunca veio, de verdade. Nada do que ela queria veio, de verdade...

Mas papai teve outro filho.
E eu coloquei o nome dele num cachorro que roubei na rua.
E o dono do cachorro descobriu que estava conosco, e ... Bem, aquele nao era um trabalho pra mim, era pra Super Mãe!
E mamãe, como sempre, fez direitinho, com mestria!, pois ninguem me bateu e nem fui chamada de "ladrona-de-cachorro" na rua.

Enfim, papai não poderia des-ter o filho, as coisas não poderiam des-acontecer, então, fomos seguindo a Vida. Entendendo algumas coisas, arrependedo-nos de outras.

Roubei mais um ou outro cachorro, e mais uma outra vez mamãe resolveu.
Comecei a tirar notas baixas e a matar aula.
Comecei a jogar gatos pela janela do segundo andar.
Comecei a empurrar as pessoas da escada, ou da janela do primeiro andar.
Sim, eu fiz isso.
E também virei perita em mentir.
E acho que não é só...

O contato com minha avó se perdeu. Se perdeu na dor que minha mãe estava deixando de sentir, ou, que estava acostumando a sentir.

(continua, sim!)

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